domingo, 27 de maio de 2007

Oque somos afinal?...


já temos o caminho aberto para a generalização da eutanásia, que consiste em tratar os idosos e doentes graves como se fossem objectos gastos: deitá-los para o lixo por já não terem utilidade e se terem tornado incómodos.
Temos permitido que embriões humanos - pequenos como nós já fomos - sejam utilizados em experiências que até há poucos anos se faziam em... ratos.
E temos permitido que se esteja a avançar com a intenção da clonagem, o que significa trazer à existência seres humanos com o objectivo único de fornecerem células que serão utilizadas para nos curar de certas doenças. Condicionando a sua existência, tal como em todos es exemplos anteriores, à utilidade que possam ter para nós ... como se fossem ratos, como se fossem coisas.
Não o dizemos deste modo, mas é essa a realidade. Arquitectamos mil razões, desenhamos argumentos, pintamos palavras antigas com outras cores... mas não há forma de alterar a verdade das coisas. Nem sequer perante nós mesmos, pois sabemos muito bem, no fundo de nós, que não passamos de mentirosos, ainda que usemos palavras aveludadas. Houve, no entanto, algo de que não nos lembrámos ao longo deste desenfreado caminho: é que ao coisificarmos outros seres humanos, nos coisificamos a nós mesmos. Se virmos os outros como coisas, se deixarmos que essa mentalidade sedimente, nada impedirá que os outros nos vejam a nós... como coisas. Pois somos tão humanos, e não mais, do que esses embriões, do que esses idosos, do que esses doentes. Sendo assim, bem poderemos ir para a rua gritar pelos nossos direitos... Ninguém nos ouvirá! Se não tivermos utilidade para os outros, quem se preocupará com aquilo que somos? Teremos tantos direitos como os tais embriões, como os tais doentes, como os tais idosos... De resto, se não podemos voltar a ser embriões, viremos a ser muito possivelmente idosos e doente. Basta ouvirmos um noticiário para tomarmos conhecimento de como cada vez mais há pessoas na rua, em grandes grupos, a clamar pelos seus direitos. Mas tenho a certeza de que a única forma de conseguirmos que nos olhem como pessoas consiste em olharmos como pessoas aqueles que já começaram a ser tratados como coisas; em defendermos aqueles que não se podem defender e que já quase ninguém defende.
Essa é a única solução. Respeitar a vida humana qualquer que seja o modo de ela se encontrar concretizada. O assunto não admite excepções. Se admitirmos avaliar os mais fracos dos humanos de acordo com critérios de utilidade e conveniência, um dia ninguém poderá ficar de fora.

É preciso que façamos qualquer coisa. E sem demora

4 comentários:

Catarina disse...

"Arquitectamos mil razões, desenhamos argumentos, pintamos palavras antigas com outras cores... mas não há forma de alterar a verdade das coisas."


Pois é... O que é ética e moralmente correcto varia no tempo e no espaço... Ainda há pouco tempo atrás não se concebiam certas acções que hoje fazem parte da nossa sociedade, que foram inseridas em nós, mediante a manipulação das nossas mentes frágeis...

Catarina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catarina disse...

"Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."

(Sophia de Mello Breyner)

Anônimo disse...

NOSSA , VC PODERIA POSTAR SEMANALMENTE , SOBRE VARIOS ASSUNTOS POLÊMICOS ... POIS ME AJUDARIA A ELABORAR REDAÇÕES ... PARA UNIVERSIDADE .. OBRIGADA ATÉ MAIS BJKS